
Existem dois tipos de escritores nesse mundo: os jardineiros e os arquitetos. Jardineiros escrevem com pouco ou nenhum planejamento — só deixam fluir — e os arquitetos gostam de saber a história toda do início ao fim, com todos os detalhes.
Se você quer escrever um livro, o primeiro passo é descobrir qual dos dois tipos você é. Para isso, nada melhor do que testar.
Neste post, organizei dois níveis de planejamento de livro que podem te ajudar a colocar as ideias no lugar e construir histórias legais.
Planejamento de nível fácil: ideal para escritores jardineiros.
Se você quer mergulhar logo na escrita e precisa só de uma base para evitar se perder no meio do caminho, esse nível é perfeito para você.
1º passo: responda a 3 perguntas essenciais:
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- Qual é o problema do meu mundo? (identifique o conflito central ou a questão que move sua história)
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- Quem resolverá o problema? (descubra quem será o protagonista e o que o torna especial)
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- Como o problema será resolvido? (pense na solução ou no desfecho principal)
2º passo: crie um fio condutor:
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- Como a história começa? (descreva o ponto de partida)
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- Como a história termina? (determine o destino do protagonista ou do conflito)
3º passo: monte um roteiro simples:
Defina 8 pontos intermediários que conectem o início ao fim. Não complica muito, defina uma ideia central para cada um.
Por exemplo, se sua história começa com o protagonista perdendo algo valioso e termina com ele encontrando, os pontos intermediários podem incluir:
1) O momento em que ele percebe a perda
2) A decisão de buscar uma solução
3) O encontro com um mentor
4) Um desafio inicial
5) Uma reviravolta que o leva ao fundo do poço
6) Uma descoberta importante
7) A preparação para o confronto final
8) O evento final, onde ele enfrenta seus maiores medos e supera o conflito

Dica extra: você pode baixar meu modelo para usar no Notion e organizar essas respostas (é gratuito). Link AQUI.

Planejamento de nível difícil: ideal para escritores arquitetos.
Se você quer ir além do básico e criar um passo a passo completo para a sua história, você vai precisar fazer mais perguntas.
1º passo: defina o gênero, ideia e tema central:
Não fique só no problema do seu mundo, pense em coisas como: que tipo de história você quer contar, que mensagem você quer passar para o leitor, quem vai contar essa história (é o protagonista, é um narrador externo?).
2º passo: descubra o protagonista e suas motivações:
Descubra coisas como:
1. Algo que ele quer (Dinheiro? Encontrar um tesouro? Caçar uma baleia?)
2. Algo que ele precisa, mas não sabe (Amor? Redenção? Aprender a perdoar?)
3. Medos (Ser rejeitado? Perder alguém importante?)
4. Defeitos (Impulsivo? Egoísta?)
Dica extra: você pode ir mais longe e definir um tipo de personalidade específico — usar sistemas de personalidade científicos como o enneagram pode ajudar — ou outras coisas como: a linguagem do amor, o temperamento, se tem algum trauma (e como esse trauma influência seu comportamento), hábitos, tiques, gírias, etc.
Observe as pessoas à sua volta! Todos nós temos pelo menos uma característica que nos destaca. Eu tenho uma amiga que adora participar em todo o tipo de desafio que dê algum prêmio, tenho outro que está sempre repetindo a última palavra do que outras pessoas falam perto dele, tenho uma amiga que morde a língua quando está concentrada em alguma coisa. Todos nós temos “detalhes”, entende?
Procure esses detalhes, isto vai tornar seus personagens muito mais profundos.
3º passo: desenvolva outros personagens
Descubra quem são os personagens próximos do seu protagonista e pense em como será o relacionamento deles.
Não se esqueça de que os personagens não podem existir na história só para servir o seu protagonista, isso não acontece no mundo real. Pense que todo personagem é o protagonista da própria história, eles precisam ter objetivos e motivações próprias para a história ser realista.
4º passo: construa o mundo da sua história
Você pode caracterizar os cenários, culturas, regras, estrutura política, religiões, sistema de magia e outras peculiaridades do universo onde a história vai acontecer.
Não precisa desenvolver tudo com todos os detalhes, basta saber o básico de cada e, conforme o tema, escolher um ou dois para aprofundar mais. Se o conflito principal envolve guerra, talvez a estrutura política seja importante de se aprofundar; se envolve um artefato mágico, talvez seja o sistema de magia.
Encontre o que faz sentido para a sua história!
5º passo: planeje os eventos principais da narrativa:
Estruture os momentos-chave que manterão o leitor engajado na história.
Aqui entram algumas dicas mais técnicas que podem ajudar: estruturas narrativas. Estruturas narrativas te ensinam como é a anatomia de uma história (do ponto de vista de pessoas que estudaram a “fórmula do sucesso”). Alguns exemplos de estruturas reconhecidas e muito utilizadas na literatura (caso você queira pesquisar mais tarde): Estrutura em Três Atos, A Jornada do Herói, Pirâmide de Freytag.
Mas não se esquece de que elas devem ser usadas como ferramentas e não como regras! Não tente encaixar sua história nessas estruturas se não fizer sentido para você, use somente como “ideias para se pensar”.
Dica extra: você também pode planejar a evolução do seu protagonista ao longo da história, isto é chamado de arco de personagem.
Basicamente, é definir como ele vai mudar ao longo da história. Quem é ele no início e quem é ele no final? Nada é regra na escrita, mas o arco do personagem é quase uma exceção, porque é isso que faz o público se importar emocionalmente com o que acontece ao personagem.
Não quer dizer que tem que acabar bem!
Existem duas formas do personagem mudar:
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- O personagem supera uma falha ou limitação interna (Elizabeth Bennet em “Orgulho e Preconceito” abandona seus preconceitos)
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- O personagem se deteriora moral ou psicologicamente (Walter White em “Breaking Bad” passa de professor a criminoso).
No entanto, existem histórias muito específicas (como suspense policial/detetive) onde o arco do personagem se mantém praticamente estático e mesmo assim a história funciona, como é o caso de “Sherlock Holmes”. O personagem mantém suas convicções, mas o mundo ao redor muda com os casos para resolver.
Dica extra 2: outra coisa legal para pensar são as subtramas ou histórias secundárias. Elas acontecem no plano de fundo da história principal, mas de alguma forma complementam a trama.
Considerações finais
Uma ótima forma de se organizar para escrever é separar um caderno exclusivo para o seu projeto e anotar nele todas as tuas ideias para a trama, mundo e personagens.
Se você gostar da experiência de organizar seu livro em formato digital, você também pode estruturar as dicas desse post em um organizador digital como o Notion.
Se você não quiser construir um modelo do zero, pode comprar o sistema de organização que fiz para os meus projetos. Este modelo é pago, mas é completo para a organização de histórias longas, especialmente fantasia e ficção científica, e vem com fichas de desenvolvimento de personagens e mundo com várias perguntas. Se tiver interesse pode dar uma olhada neste link AQUI.

Independente do nível de planejamento que você escolher, o importante é dar o primeiro passo e organizar suas ideias.
Espero que tenha ajudado!
Um beijo,
Flora